Deixa de exercitar, move-te | Aia Boldovskaia

Mexer-se é um privilégio?

O Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade para refletir sobre como a igualdade de género transforma a sociedade – e isso inclui algo essencial: o movimento. Vejo constantemente como as mulheres equilibram trabalho, família e responsabilidades, muitas vezes deixando o seu próprio bem-estar para segundo plano. Mas mover-se—seja caminhar, dançar ou treinar—é um ato de autonomia e de autocuidado.

Um estudo que analisou 34 países encontrou uma ligação clara: as mulheres em sociedades mais igualitárias têm três vezes mais probabilidade de praticar atividade física no tempo livre do que as que vivem em países menos igualitários. E aqui está o detalhe interessante: os homens também beneficiam de mais igualdade de género quando se trata de movimento.

Porque é que a igualdade de género afeta a atividade física?

  • Mais autonomia = mais tempo para mexer-se
Uma das maiores barreiras à atividade física para as mulheres é a falta de tempo. Em muitas sociedades, as mulheres assumem grande parte das tarefas domésticas e do cuidado da família, o que deixa pouco espaço para o lazer e para o seu próprio bem-estar. Nos países onde há maior equilíbrio na divisão de responsabilidades, as mulheres têm mais liberdade para priorizar a sua saúde e encontrar formas de se mexer.

  • Educação e independência económica fazem a diferença
A igualdade de género está fortemente ligada a melhores níveis de educação e independência financeira para as mulheres. E isso tem um impacto direto na atividade física. Estudos mostram que pessoas com mais formação e estabilidade financeira tendem a ter estilos de vida mais ativos. Quando as mulheres têm acesso a educação, rendimento próprio e políticas que as apoiam, passam a encarar o movimento não como um luxo, mas como um investimento essencial na sua saúde.

  • Quebrar barreiras sociais
Existe uma força invisível que muitas vezes impede as mulheres de se movimentarem: as normas sociais. Há quem ainda ache que certos desportos “não são para mulheres”, que a intensidade não combina com feminilidade, ou que a prática de atividade física não deve ser uma prioridade. Estas ideias precisam de desaparecer. Quando se desafiam estes estereótipos, mais mulheres sentem-se confiantes para se mexer, e isso acaba por beneficiar toda a sociedade.

  • Mais igualdade, mais movimento para todos
Isto é o que mais me fascina. Quanto maior a igualdade de género, mais ativos são também os homens. O estudo mostrou que nos países mais igualitários, os homens também praticam mais atividade física do que nos países com menor igualdade. Faz sentido—quando ambos os géneros deixam para trás papéis rígidos e limitadores, há mais espaço para escolher um estilo de vida mais saudável.

O que isto significa para a saúde pública?

A igualdade de género é também uma estratégia de saúde pública. Quando as mulheres têm as mesmas oportunidades de acesso à educação, ao rendimento e à autonomia, a sua participação na atividade física aumenta, melhorando a saúde a longo prazo.

Criar oportunidades acessíveis faz a diferença. Para que mais mulheres possam praticar atividade física, é essencial garantir espaços seguros, políticas de apoio e acesso a recursos que tornem o movimento uma opção realista para todas.

Está na hora de redefinir o que significa ser ativo. Movimento não é só desporto ou treino estruturado. Pode ser dançar na sala, caminhar para o trabalho, brincar com os filhos—tudo conta. O que importa é garantir que as mulheres têm a liberdade para se mexerem sem barreiras.

Este estudo confirma algo que já sabemos intuitivamente: quando as pessoas têm liberdade e meios para se mover, elas movem-se. Mas precisamos de criar ambientes onde essa liberdade seja real e acessível para todos.

Então, neste Dia Internacional da Mulher, celebremos não só o movimento dos corpos, mas o movimento em direção ao progresso. Porque quando as mulheres se mexem, a sociedade avança.
Fonte: Balish, S. M., Deaner, R. O., Rathwell, S., Rainham, D., & Blanchard, C. (2016). Gender equality predicts leisure-time physical activity: Benefits for both sexes across 34 countries. Cogent Psychology, 3(1). https://doi.org/10.1080/23311908.2016.1174183
2025-03-08 08:00 Sociedade